A Estrela de Tabby, um dos objetos estelares mais misteriosos do nosso tempo, pode estar finalmente a revelar alguns dos seus segredos entre os quais, a origem da famosa “megaestrutura alienigena” que parece ocultá-la parcialmente.
Além disso, a estrela tem tido tendências enigmáticas de atenuação muito mais subtis a longo prazo e uma continua ainda hoje. Este comportamento é inesperado para estrelas normais ligeiramente mais massivas que o Sol.
As especulações têm incluído a ideia de que a estrela engoliu um planeta instável, e uma teoria mais imaginativa envolve um engenho gigante ou “megaestrutura alienígena“, construída por uma civilização avançada, que pode recolher energia da estrela e estar a fazer com que o seu brilho diminua.
Um novo estudo, com base em dados das missões Swift e Spitzer da NASA bem como do observatório belga AstroLAB IRIS, sugere agora que a causa do escurecimento em longos períodos é provavelmente uma nuvem de poeira disforme que se move em torno da estrela.
Isto destrói a ideia da “megaestrutura alienígena” e das outras especulações mais exóticas.
No entanto, os investigadores encontraram menos diminuições estelares no infravermelho do que no ultravioleta. Qualquer objeto maior do que simples partículas de poeira cósmica escureceria todos os comprimentos de onda de forma igual quando passasse em frente da Estrela de Tabby.
“Isto descarta a teoria da megaestrutura alienígena, pois não pode explicar a diminuição de brilho dependente do comprimento de onda,” afirma Huan Meng, da Universidade do Arizona em Tucson, EUA, autor principal do novo estudo publicado na revista The Astrophysical Journal.
“Nós suspeitamos, ao invés, que existe uma nuvem de poeira em órbita da estrela com um período de aproximadamente 700 dias”, diz Meng.
Por que a poeira é o mais provável
Nós discernimos o escurecimento uniforme da luz muitas vezes no nosso quotidiano: se formos à praia durante um dia limpo e nos sentarmos debaixo de um chapéu de praia, o chapéu reduz a quantidade de luz solar que atinge os nossos olhos em todos os comprimentos de onda.
Nós discernimos o escurecimento uniforme da luz muitas vezes no nosso quotidiano: se formos à praia durante um dia limpo e nos sentarmos debaixo de um chapéu de praia, o chapéu reduz a quantidade de luz solar que atinge os nossos olhos em todos os comprimentos de onda.
Mas se esperarmos pelo pôr-do-Sol, o Sol parece vermelho porque a luz azul e ultravioleta é espalhada por partículas pequenas. O novo estudo sugere que os objetos que provocam o escurecimento de longo período da Estrela de Tabby não podem ter mais do que alguns micrómetros em diâmetro. Entre janeiro e dezembro de 2016, os investigadores observaram a Estrela de Tabby no ultravioleta usando o Swift e no infravermelho usando o Spitzer. Complementando os telescópios espaciais, os cientistas também observaram a estrela no visível durante o mesmo período usando o AstroLAB IRIS, um observatório público com um telescópio refletor de 27 polegadas localizado perto da vila belga de Zillebeke.
Com base no forte mergulho ultravioleta, os investigadores determinaram que as partículas de bloqueio devem ser maiores do que a poeira interestelar, pequenos grãos que podem ser encontrados entre a Terra e a estrela. Tais partículas pequenas não podiam permanecer em órbita da estrela porque a pressão da sua luz as empurraria para o espaço.
A poeira que orbita uma estrela, chamada poeira circunstelar, não é tão pequena para voar para longe, mas também não é suficientemente grande para bloquear uniformemente a luz em todos os comprimentos de onda. Esta é considerada, atualmente, a melhor explicação, embora outras sejam possíveis.
Colaboração com Astrónomos Amadores
Os cientistas-cidadão fazem parte integrante da exploração da Estrela de Tabby desde a sua descoberta. A luz deste objeto foi identificada, ao início, como “bizarra” e “interessante” pelos participantes do projeto Planet Hunters, que permite com que qualquer pessoa procure planetas nos dados do Kepler.
Isto levou a um estudo de 2016 que deu a conhecer o objeto, cuja alcunha honra Tabetha Boyajian, agora na Universidade Estatal do Louisiana, em Baton Rouge, autora principal do artigo original e coautora do novo estudo.
O trabalho recente sobre o escurecimento de longo período envolve astrónomos amadores que fornecem suporte técnico e de software ao AstroLAB. Vários membros da equipa do AstroLAB que se voluntariaram no observatório não têm educação formal em astronomia.
Franky Dubois, que operou o telescópio durante as observações da Estrela de Tabby, foi capataz numa fábrica de cintos. Ludwig Logie, que ajuda com questões técnicas do telescópio, é coordenador de segurança no setor da construção.
Steve Rau, que processa as observações do brilho estelar, é formador numa companhia ferroviária belga. Siegfried Vanaverbeke, voluntário do AstroLAB que detém um doutoramento em física, tornou-se interessado pela Estrela de Tabby depois de ler o estudo de 2016 e convenceu Dubois, Logie e Rau a usar o AstroLAB para a observar.
“Disse aos meus colegas: ‘Este seria um objeto interessante de seguir,'” recorda Vanaverbeke. “E decidimos juntarmo-nos.”
O astrónomo George Rieke, da Universidade do Arizona, coautor do novo estudo, contactou o grupo AstroLAB quando viu os seus dados sobre a Estrela de Tabby publicados num arquivo público de astronomia. Os grupos dos EUA e da Bélgica uniram-se para combinar e analisar os seus resultados.
Embora os autores do estudo tenham uma boa ideia da razão porque a Estrela de Tabby diminui de brilho a longo prazo, não abordaram os eventos de atenuação de curto prazo que aconteceram em períodos de três dias em 2017.
Embora os autores do estudo tenham uma boa ideia da razão porque a Estrela de Tabby diminui de brilho a longo prazo, não abordaram os eventos de atenuação de curto prazo que aconteceram em períodos de três dias em 2017.
Também não se debruçaram sobre o mistério das grandes diminuições de 20% que o Kepler observou enquanto estudava o campo de Cisne da sua missão primária. Investigações anteriores com o Spitzer e com o WISE sugeriram um enxame de cometas como responsável pelas diminuições mais curtas.
Os cometas também são uma das fontes mais comuns de poeira que orbitam as estrelas e, como tal, também podem estar relacionados com o escurecimento de longo período estudado por Meng e colegas.
Agora que o Kepler explora outras áreas do céu na sua missão atual, de nome K2, já não consegue acompanhar a Estrela de Tabby, mas os telescópios do futuro podem ajudar a revelar mais segredos acerca deste misterioso objeto.
“A Estrela de Tabby pode ter uma espécie de ciclo de atividade solar. É algo que precisa ser investigado e continuará a interessar os cientistas por muitos anos,” conclui Vanaverbeke.